quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Avanço e retrocesso

O Ministério Público Federal (MPF) deu um passo para tentar contribuir com a diminuição da violência dentro e nos arredores dos estádios de futebol. O passo dado, parte do pressuposto de que a proibição da venda de bebidas alcoólicas dentro e nos entornos dos estádios diminuiria a violência. A medida é um avanço quando pensamos numa visão do espetáculo de futebol moderno. O conceito de entretenimento prevê que, a cada dia, o espetáculo precisa atrair mais famílias. Nada contra quem toma sua cervejinha dentro do campo ou no entorno – como quer o MPF – mas convenhamos que, nada mais chato que um torcedor embriagado, perturbando um monte de gente dentro do campo, liberando suas frustrações e mais, usando o estado de embriaguez para se tornar “mais homem que os outros”. A verdade é que a medida generaliza e tudo que é generalizado, afeta a todos. Sem “separar o joio do trigo”, os responsáveis são punidos. Mas acho que todos hão de convir que alguma medida precisa ser tomada. Li e ouvi reações das mais diversas. Por que não proíbem cocaína ou qualquer outra droga ilícita nas portas dos estádios, nos banheiros, nos arredores das praças esportivas ou nas sedes das torcidas organizadas? Simples de responder. Este comportamento já é proibido, por isso, não existe a necessidade de uma intervenção proibitiva. Mas a medida do MPF traz o outro lado da moeda. Vem o retrocesso. O outro lado da moeda é simples de justificar porque será apenas mais uma medida com o intuito de “jogar para a galera”. Ela foi tomada sem ouvir ou consultar o grande consumidor do espetáculo. Reza a lenda, que tudo começou quando uma marca de cerveja passou a patrocinar a Série B com a força da presença do então rebaixado Corinthians. Incomodado com a exposição da mídia que teria a concorrente, a empresa que patrocina a CBF através da Seleção Brasileira, exigiu a proibição e, o pior, foi atendida. Ela continuou exibindo sua marca no maior produto do futebol brasileiro, mas a concorrente, se ferrou no investimento. A medida não vai pegar, assim como tantas outras – e nem vou falar de outros cenários, vamos se ater apenas ao esporte. Por que será que tanto se fala dos cambistas e ninguém consegue resolver? Por que será que é claro para todo mundo que as raízes da violência do futebol estão nas torcidas organizadas, que promovem arruaça, prejudicam os torcedores comuns e acuam os clubes com pressão, violência e agressões? Por que será que o estatuto do torcedor, uma lei federal, não é cumprido e ninguém reclama? Qualquer que seja a restrição vai causar polêmica. Vocês lembram quando o Estádio Rei Pelé ganhou cadeiras? Era a modernidade, o avanço. Mas para muitos foi um incômodo. Como num campo de futebol vai se assistir a uma partida sentado? Para encerrar, não acredito na fiscalização como instrumento de coibição. Imagino que a PM não terá a condição de fiscalização que o TAC prevê. Os caras estão pouco preocupados e mais do que isso, pouco preparados para lidar com este tipo de situação. É só lembrar o tal do “xixi” em lugares públicos. Um militar responsável pelo comando no dia das prévias carnavalescas disse claramente que não estava na praia para proibir ninguém de fazer xixi, estava para garantir a segurança da população. Portanto, este termo de ajuste de conduta será mais um a ser engolido pela cultura social e pelo senso comum.

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